Tratando a doença celíaca
Cuidados Nutricionais
Atualmente o único tratamento conhecido, possível e eficaz para a DC, em todas as formas clínicas, é uma dieta isenta de glúten (DIG), a qual deve ser permanente, rigorosa, saudável e equilibrada, não devendo os alimentos que contêm glúten serem eliminados, mas sim substituídos por outros cujas matérias-primas não o contêm. Além de ocasionar o desaparecimento completo dos sintomas e de melhorar a qualidade de vida, a DIG evita a ocorrência de complicações. As principais complicações são: osteoporose, ocorrência de doenças auto-imunes e doenças malignas como linfoma. Contudo, se houver reintrodução do glúten, as inflamações regressam e os sintomas reaparecem. A resposta do intestino é geralmente rápida e por isso não se deve fazer qualquer restrição alimentar antes da confirmação do diagnóstico por biópsia. Desta forma, evitam-se diagnósticos inconclusivos e grandes prejuízos para os doentes.
Além da dieta, o paciente celíaco deve estar atento também à composição dos medicamentos prescritos para ele. Quanto maior o grau de conhecimento da doença e de seu tratamento, maior a obediência à DIG.
A sensibilidade ao glúten varia de pessoa para pessoa, ou seja, existem celíacos que logo após consumirem glúten apresentam sintomas, enquanto que outros, mesmo comendo alimentos com glúten, não têm sintomas. Isso não quer dizer que uma pessoa seja mais celíaca do que a outra. Embora a pessoa com DC não apresente sintomas após consumir glúten, o intestino dela está sendo agredido após esta ingestão.
Objetivos da DIG
O estado nutricional de um indivíduo recentemente diagnosticado depende de há quanto tempo foi feito o diagnóstico, das lesões intestinais e do grau da má absorção. Indivíduos recentemente diagnosticados, ou inadequadamente tratados podem apresentar uma grave perda de peso, anemia, baixa densidade mineral óssea e deficiências em vitaminas e minerais. A má absorção de ferro, folato e cálcio são comuns, uma vez que estes nutrientes são absorvidos na parte intestinal, onde ocorrem as lesões.A DIG tem por objetivos diminuir os sintomas gastrointestinais e os valores dos testes sorológicos, melhorar a mucosa intestinal e o estado nutricional do indivíduo. Por consequente, o diagnóstico e a dieta devem ser estabelecidos precocemente, uma vez que a DIG implementada na infância ou adolescência é a única forma de assegurar o desenvolvimento e crescimento adequado da criança celíaca e, quando praticada a longo prazo, a dieta mantém a composição normal em jovens adultos e protege das complicações da DC em idade adulta.
Nos casos mais graves (com má nutrição evidente) é possível que existam carências de várias ordens pelo que pode ser necessário administrar suplementos vitamínicos ou ferro no início do tratamento. Contudo, isto só deve ser feito se o médico o achar necessário. Depois da retirada do glúten é frequente verificar-se o aparecimento de um apetite voraz, o que é um bom sinal e entusiasma, principalmente, os pais da criança celíaca. Deve manter-se, porém, uma certa prudência pois a ingestão excessiva de alimentos inadequados (alto teor de gordura e/ou açúcares) não é bem tolerada por um intestino incompletamente recuperado, além de que poderá conduzir a um aumento de peso exagerado.
Apesar dos benefícios da DIG, seguí-la não é fácil. É necessário modificar a rotina alimentar uma vez que o consumo de alimentos que contém glúten é muito frequente. Portanto, o celíaco deve criar novos hábitos alimentares, o que afeta não somente a sua vida, mas também a de seus familiares. A necessidade cotidiana de uma alimentação fora de casa, carente de opções seguras e o desconhecimento da doença por parte dos donos dos estabelecimentos que oferecem alimentos, são grandes desafios para quem precisa fazer a DIG.
Importante destacar que existem dois tipos de transgressão em relação ao glúten:
Transgressão voluntária: o celíaco sabe que está consumindo glúten e faz isso voluntariamente.
Transgressão involuntária: o celíaco ingere glúten sem saber: algum alimento que não contém glúten, mas que durante o seu preparo pode ter tido contato com outros ingredientes contendo essa proteína.
Outra causa importante que contribui para a não obediência à DIG é a descrença de parentes e amigos que acham que “só um pouquinho” de glúten não faz mal.
É preciso recordar aqui que a dieta deve ser totalmente sem glúten. E também que é imprescindível ter acompanhamento regular com um médico e um nutricionista.
Cuidados no ambiente escolar
As crianças e adolescentes celíacos da rede pública ou privada de ensino podem e devem participar de todas as atividades escolares. Porém fica a cargo da família comunicar à escola (diretores, professores, orientadores e nutricionistas), através de laudo médico, o cuidado no ambiente escolar, a saber sobre:- Medicamentos: alguns podem conter glúten na sua composição; neste caso não autorize dar medicamento sem a prescrição médica;
- Atividade física: as crianças celíacas devem e podem fazer os mesmos exercícios de seus colegas;
- Aula de artes: observe se a massinha escolar (massa de modelar), em especial as massinhas caseiras, e a tinta para pintura a dedo, utilizadas na escola, contêm glúten na sua composição;
- Aula de culinária: as crianças celíacas não podem participar das aulas com receitas que utilizam trigo, aveia, cevada ou centeio, fazendo biscoitos ou bolos;
- A dieta: fale com a nutricionista sobre a restrição alimentar do seu filho ou filha e, se possível, com a merendeira. A escola divulga o cardápio, observe o que seu filho ou filha pode comer;
- Festa na escola: é importante a criança permanecer entre os amigos sem estar faminta. Algumas guloseimas podem ser servidas como: mariola, paçoca, cajuzinho, brigadeiro (com receita original), gelatina, picolé, pipoca etc.;
- Festa de amigos: informar que não deve ser servido à criança “somente a carne” do hambúrguer, “somente o queijo” da pizza, por haver perigo de contaminação por glúten. Caso não tenha acesso antecipado ao cardápio servido, a criança deverá levar seu lanche.
Nunca separe uma criança e/ou adolescente celíaco dos seus colegas na hora das refeições. As refeições em conjunto favorecem a comunicação e reforçam os laços de amizade.
Inclusão social na DIG
Quando a dieta é cumprida o celíaco pode levar uma vida inteiramente normal. Os celíacos podem (e devem!) crescer, desenvolver-se e socializar-se como os outros, não devendo por isso ser impedidos de praticar ginástica, atletismo, natação ou quaisquer outros exercícios físicos ou atividades sociais adequados à sua idade. Há sobretudo que evitar olhar para eles como "doentinhos", tal como certas pessoas não podem comer mariscos, carne de porco, etc., os celíacos não toleram o glúten pelo que precisam apenas de uma alimentação sem os cereais já conhecidos. Temos de reconhecer porém que esta dieta nem sempre é fácil, até porque estes alimentos fazem parte do dia-a-dia de todas as famílias. Por outro lado, embora existam no mercado muitos produtos sem glúten, eles são habitualmente caros e a sua distribuição pelo país é bastante irregular. Isto não quer dizer que não se possa fazer uma dieta sem glúten perfeitamente equilibrada e apetitosa: basta encarar o problema de frente e introduzir algumas adaptações nas refeições. Acima de tudo há que contar com a compreensão de todos os membros da família já que a sua colaboração é indispensável para o cumprimento integral da dieta e para a educação do celíaco. Há quem proponha mesmo que para simplificar o trabalho de casa, todos passem a fazer o mesmo tipo de alimentação. Não há qualquer inconveniente nesta solução a qual pode ajudar a diminuir uma eventual "diferença" na atitude perante diferentes irmãos. E se, apesar de todos os cuidados (alimentação na escola, em festas, viagens, restaurante, etc.), acabar por surgir uma falha isolada, ela não deve ser motivo de preocupação exagerada mas servir sobretudo para reflexão e para evitar futuras repetições.Monitoramento
No tratamento da DC é necessário um monitoramento contínuo através da análise dos resultados dos testes sorológicos, do estado nutricional e dos parâmetros bioquímicos, com o objetivo de verificar o cumprimento da DIG. Assim, é recomendada a medição dos TTG seis meses após o tratamento com DIG, pois uma diminuição deste anticorpo é um indicador indireto da adesão à dieta e consequente recuperação do indivíduo com DC.Outros tratamentos em desenvolvimento

Cuidados especiais
Atenção ao rótulo de produtos industrializados em geral. A lei federal nº 10674, de 2003, determina que todas as empresas que produzem alimentos precisam informar obrigatoriamente em seus rótulos se aquele produto “CONTÉM GLÚTEN” ou “NÃO CONTÉM GLÚTEN”.Qualquer quantidade de glúten, por mínima que seja, é prejudicial para o celíaco, portanto:
- Leia com atenção todos os rótulos ou embalagens de produtos industrializados e, em caso de dúvida, consulte o fabricante;
- Não use óleos onde foram fritos empanados com farinha de trigo ou farinha de rosca (feita de pão torrado);
- Não engrosse pudins, cremes ou molhos com farinha de trigo;
- Tenha cuidado com temperos e amaciantes de carnes industrializados, pois muitos contém glúten;
- Não utilize as farinhas proibidas para polvilhar assadeiras ou formas.
- Existem celíacos que são diabéticos. Portanto, sua alimentação não deve conter glúten e nem açúcar;
- Existem celíacos que têm intolerância à lactose. Portanto, sua alimentação não deve conter glúten, nem leite de vaca e seus derivados.
Fontes: www.fenacelbra.com.br/fenacelbra/doenca-celiaca/
Doença Celíaca: Sintomas, Diagnóstico e Tratamento Nutricional. SAÚDE REV., Piracicaba, v. 12, n. 30, p. 53-63, jan.-abr. 2012
Guia Orientador para Celíacos disponível em <www.fenacelbra.com.br/fenacelbra/wp-content/uploads/2013/04/Guia-Orientador-para-Cel%C3%ADacos.pdf>
Associação Portuguesa de Celíacos
www.celiacos.org.pt/doenca-celiaca/tratamento.html
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